Por Daniel Carnielli
Embora seja comum resistir à ideia de ter um estranho no grupo, principalmente quando o momento é destinado ao lazer, ter um guia capacitado acompanhando e instruindo pode ser o elemento mágico para sua viagem.
Durante minhas jornadas, além de ter tido a oportunidade de guiar amigos ou “clientes”, também tive o prazer de partilhar momentos maravilhosos com guias que me surpreenderam.
Geralmente o guia, profissionalmente titulado condutor de visitantes, não simplesmente apresenta o lugar e roteiros, mas, no fundo, faz muito mais do que isso. Ter um guia certamente agregará a sua viagem um elemento positivo que possivelmente não estava em seus planos. Aqui, elenquei os 10 motivos para você pensar duas vezes antes de negar a ajuda deste amigo.
1. Ninguém conhece o local melhor do que ele
Isso não quer dizer que você não possa vir a conhecer ou que as dicas daquele morador ou amigo conhecedor não têm valor. Pelo contrário. O guia muitas vezes conhece detalhes sobre o local a ser visitado que só irão enriquecer o passeio. O nome daquela planta diferente, a informação de onde há segurança para entrar na água ou não, aquela sugestão que você não sabia ou não havia dado importância, mas que vale a pena para seu perfil de turista.
2. Os passeios certos para o seu perfil
Como conhecedor da região e muitas vezes com experiência em diversos grupos, ele vai avaliar os gostos, a disposição e a facilidade de locomoção para sugerir os passeios para o seu perfil. Sim, é verdade que alguns guias vão evitar os roteiros mais complicados para ele, mas nada que um pouco de insistência não resolva. Mas a questão maior é a assertividade dos passeios. Com esta ajuda, a certeza de que o local atenderá às expectativas do grupo será muito maior. A consequência será que todos aproveitarão melhor.
3. Conhecedor dos animais da região
Os valentões – por favor, não se ofendam, me incluo no grupo – tendem a ignorar os perigos e não-perigos da região. Pessoalmente, sou avesso a qualquer contato com aracnídeos e durante minhas guiagens e passeios na Chapada dos Veadeiros sempre dei muita ênfase à segurança, mantendo distância desses bichos. Na região do Vale da Lua é muito comum encontrar grande quantidade de aranha armadeira (entre as mais venenosas do mundo) e, acreditem, não é uma boa ideia colocar a mão sobre uma aranha que é quase da mesma cor das rochas do local.
Em paralelo, na região do Petar existem aracnídeos que simplesmente não oferecem risco algum ao ser humano. E mesmo em grandes quantidades, tornam-se uma atração à parte. Entre outras formas de vida local, o guia conhece o que pode ou não oferecer risco e permitir um passeio mais tranquilo, com a orientação adequada, pelo que há na região.
4. Os perigos naturais não são desconhecidos por ele
Da mesma forma como o guia conhece os animais na região, conhece também os perigos naturais. Um exemplo é a tromba d’água, muito comum em regiões de rios. Trata-se da chuva forte na cabeceira do rio; dependendo do local, o volume de água aumenta muito rápido, às vezes surpreendendo de forma ruim quem estiver em seu caminho. Há locais onde, em questões de poucos minutos – às vezes, segundos –, o volume chega a metros.
Quando chove na Chapada dos Veadeiros, onde há rios com leito rochoso, a água não é absorvida pela borda, tornando a tromba d’água rápida e intensa. O guia conhece o que a região pode oferecer de riscos e, assim, evitá-los. Há macetes locais para “prever” estes percalços naturais.
5. A época certa para a visita
Muitos locais possuem um período do ano ou uma época certa para a visitação. Se quer ver neve nos pontos de esqui argentinos, vá no inverno. Se quer ver cachoeiras lindas e cheias, vá logo depois das chuvas da região. Se quer fugir das chuvas, vá na seca. Mas quando é tudo isso? Apesar do ano ter quatro estações, como cada região se comporta? Pois há, sim, diferença, e nada melhor do que o condutor de visitantes para orientar. Afinal, é frustrante fazer a viagem para ver o encontro das águas do Vale do Ribeira e chegar lá na época de chuvas, quando não é permitida a visitação no local justamente pelo excessivo e perigoso volume de água.
6. O guia certo
Para evitar o incômodo de ter um guia que não condiz com você, a dica é deixar claro qual é o seu perfil. Seja na pousada, na agência ou diretamente com o guia, dizer o tipo de passeio que procura vai ajudar na escolha de seu condutor. Há guias e guias, assim como há pessoas e pessoas. O guia que tem o seu perfil vai surpreender de tal forma que você vai desejar que a viagem nunca acabe.
7. Conduzir visitantes é um prazer, mas também é trabalho
O guia está a trabalho e é responsável pela segurança do grupo que o acompanha. Cada local tem sua norma em relação à quantidade de clientes, mas para um guia, é humanamente impossível dedicar a atenção a grupos muito grandes, portanto é adequado respeitar os limites de pessoas propostas. Por quê? Se alguém torcer o pé, quem vai ajudar? E se o grupo precisar “se virar” enquanto o guia socorre alguém, quem consegue? O número de pessoas no grupo é decidido desta forma. Como o responsável consegue dar o suporte adequado conhecendo a região no caso de incidentes ou acidentes? Além disso, cabe ao guia cuidar dos “espertinhos” e dos “extremamente cautelosos”, grupos distintos que oferecem basicamente o mesmo risco em diversas situações.
8. Vale o investimento
Como tudo na vida, a qualidade tem preço. Não poderia ser diferente no caso do condutor de visitantes. É comum encontrarmos, em alguns locais, habitantes antigos trabalhando como guias – estes, muitas vezes pela simplicidade do lugar, não costumam cobrar caro. Mesmo assim, o valor às vezes pesa no orçamento da viagem. Mas quanto você cobraria por um dia inteiro do seu trabalho? Será justo determinar valores irrisórios por este tempo?
O guia dedica não somente o dia, mas abre mão de outras atividades para fazer aquela que é, as vezes, economicamente a melhor opção para a sua região ou a que ele mais gosta. Independente da razão, pesquise os valores locais, mas seja justo com o profissional: ele também precisa do dinheiro, e por mais prazeroso que seja, está ali para trabalhar.
9. Você certamente ganhará um amigo
Todos, sem exceção, todos os guias que já conheci amam conhecer pessoas. Eles ficam orgulhosos em saber que a rede de amigos vai de professores a astrólogos, brasileiros a indianos, crianças a idosos. O guia quer conhecer você e adoraria saber do quanto a experiência que ele proporciona significa a você. Às vezes com tato, às vezes sem a curiosidade, mas o valor pessoal que ele satisfaz no trabalho não é somente visitar os locais, pois isso ele já pode fazer sozinho.
O valor é de satisfazer e surpreender positivamente seus guiados. Os agradecimentos no fim do dia são como presentes e evidenciam que a missão foi cumprida. E isso será prazeroso para todos. O guia não está lá para se indispor, ele se candidata justamente para se dispor. Aproveitar desta hospitalidade só cabe a você.
10. Aproveite a viagem
Tirar o máximo de proveito de um destino não é exatamente conhecer tudo o que há naquele local. Lógico que em alguns locais realmente vale conhecer tudo, mas no fundo, o mais importante talvez seja fazer o passeio certo, tirando o máximo de proveito dentro do seu perfil. De que adianta fazer horas de caminhada sofrida se alguém no grupo não está com disposição? O passeio será cansativo e a expectativa dificilmente será superada. Na programação de sua viagem, conte com o guia o quanto antes. A maioria deles terá prazer em ajudar, mesmo que por e-mail. Mais do que isso, ele saberá dizer quantos dias será o ideal para você, locais de melhor hospedagem e até mesmo se há, de fato, a necessidade de veículo no destino escolhido.