Por José Jayme
Se você for de Recife, certamente sabe que o correto é “do” Recife. E essa não é a única coisa que os “forasteiros” desconhecem sobre a capital pernambucana. Carinhosamente classificada como a maior cidade pequena do mundo pelos seus moradores, Recife tem várias particularidades que a tornam única, mesmo quando comparada com as outras capitais nordestinas.
01. O único lugar onde se idolatra o invasor
Durante o século 17, o Brasil foi invadido pelos holandeses e, dentre as várias regiões que ficaram nesse domínio, Pernambuco foi uma delas. Nesse período, o estado foi comandado pelo conde Maurício de Nassau e uma grande expansão urbanística foi realizada na cidade.
Após a expulsão e ao passar de muitos anos, permeia pelo imaginário popular que a situação do estado seria bem melhor se os holandeses ainda estivessem aqui. Verdade ou não, o Conde Maurício de Nassau tem sua “fama” estampada em vários lugares, desde nome de ruas até uma universidade.
02. Recife já ficou refém de um boato – duas vezes
O ano era 1975 e a cidade ainda se recompunha de uma enchente devastadora. Mesmo com a construção da barragem de Tapacurá, criada para evitar cheias, a cidade sofrera as consequências das fortes chuvas.
Alguns dias após o nível da água baixar, correu o boato de que a barragem havia rompido e que a cidade seria engolida por uma onda monumental. Até que se descobrisse que tudo não passava de uma mentira, o caos se instalou, com pessoas abandonando seus carros e subindo em prédios. Por incrível que pareça, esse episódio se repetiu em 2011, agora com as redes sociais como carro-chefe.
03. A cidade mais bairrista em linha reta da América Latina
O recifense tem a curiosa característica de ser megalomaníaco. Tanto é verdade que já foi feito um documentário a respeito, contando as diversas histórias que fazem do recifense um povo que tem mania de grandeza.
Para citar alguns exemplos, já se falou que o Shopping Center Recife é o maior do Brasil (e de fato até foi); que o Galo da Madrugada é o maior bloco do mundo (também já foi); que a Av. Caxangá é a maior avenida em linha reta da América Latina (nunca foi); e que temos o segundo maior polo médico nacional.
Lembra dos holandeses? Após a expulsão, eles se instalaram nos Estados Unidos e fundaram uma cidadezinha ao nordeste do país chamada Nova York. Sem falar nos rios Capibaribe e Beberibe, que se unem para formar o oceano Atlântico. Se quiser saber mais sobre essas e outras histórias, o documentário se chama – e não poderia ser diferente – O Melhor Documentário do Mundo.
04. Um roteiro exclusivo aos lugares mal assombrados
O Recife é a capital mais assombrada do Brasil – de acordo com os próprios recifenses –, e o mais interessante é que várias dessas histórias de assombração estão consolidadas em um roteiro oferecido pela Secretaria de Turismo da cidade. Passando por diversos bairros, os turistas podem se deliciar e ficar com um frio na espinha com as histórias das assombrações do rio Capibaribe e do Cemitério de Escravos da Cruz do Patrão, entre outras.
05. Um dos poucos lugares onde se vai à praia para não tomar banho de mar
Nos últimos 20 anos, o Recife se tornou um dos lugares com maior incidência de ataques de tubarão do mundo. E não se trata de megalomania. Pesquisas identificaram que o fenômeno se deu por influência do Porto de Suape, localizado ao sul da cidade, cuja expansão afetou o ecossistema da região e fez com que esses predadores fossem cada vez mais próximos das praias em busca de alimento, gerando diversos ataques a banhistas e levando a óbito em alguns casos.
Esse fator gerou uma mudança de comportamento para os frequentadores da orla urbana. Inicialmente com a prática do surf proibida, as limitações se estenderam ao banho de mar, e hoje o que se vê são “banhistas” que fazem de tudo na praia: tomam cerveja, jogam bola, correm… mas não tomam banho de mar.
06. Roberto Carlos não é o rei
No reino da cidade do Recife, Roberto Carlos não tem autoridade. O cantor é respeitado e admirado por muitos, mas se tratando da dinastia musical, o Recife tem Reginaldo Rossi como monarca.
07. Uma das cidades brasileiras com maior influência francesa
No século 19, época da Revolução Industrial, o Recife começou a receber diversas intervenções urbanas de influência francesa. Estruturas de ferro vindas da Europa foram utilizadas em construções e ornamentações pela cidade, como as estátuas da Ponte Maurício de Nassau, importadas de Val D’Osne, região da França rica em fundições.
Além do mais, o engenheiro francês Louis Léger Vauthier foi responsável por diversas obras na cidade, como o teatro Santa Isabel e a estação central do Recife, inspirada na estação Gare dD Est da capital francesa, além do Mercado de São José, mais antigo edifício pré-fabricado em ferro no Brasil e inspirado no mercado de Grenelle, localizado – adivinhem onde? – em Paris. Ainda tem dúvidas dessa influência? Pergunte como o recifense chama o painel de um carro. Na capital pernambucana ele é conhecido como tabelier.
08. Meu nome não é rocambole
A culinária nordestina tem diversas particularidades, mas em Pernambuco você encontra iguarias que dificilmente achará em outros estados do Nordeste. Talvez a mais famosa seja o bolo de rolo que, para os recém apresentados, é confundido com um rocambole. Se delicie com ela e aprenda que bolo de rolo é seu nome.
09. Pode-se conhecer um castelo medieval sem precisar ir à Europa
Inaugurado em 2002, o Instituto Ricardo Brennand está sediado no bairro da Várzea, em um conjunto arquitetônico em estilo medieval composto de uma pinacoteca, uma galeria e um castelo que abriga um museu, circundados por um vasto parque. Possui uma grande coleção de objetos artísticos e históricos (incluindo obras de Frans Post), um acervo de mais de 62 mil livros, datados do século 16 em diante, e um dos maiores acervos de armas brancas do mundo, a maior parte proveniente da Europa.
10. Se refrescando com uísque
Recife é a cidade brasileira com o maior consumo de uísque per capita do Brasil. A cidade já ocupou o posto de maior consumidora do mundo de uísque da marca Johnnie Walker (apenas para reforçar a mania de grandeza do recifense) e a grande ironia disso mora no fato de que, assim como as outras cidades do nordeste, Recife possui temperaturas altas na maior parte do ano.
11. Onde encontrará a primeira sinagoga das Américas
Devido à forte presença judaica no passado, o Recife possui a mais antiga sinagoga das Américas. E isso não é fruto da megalomania recifense. Ela está localizada na rua do Bom Jesus (antiga rua dos Judeus) e fica aberta de terça à sexta das 9h às 17h, domingo das 14h às 18h.
12. Boate nova? Aproveite!
A cidade não tem uma cultura forte de casas noturnas. Infelizmente muitas abrem e, num prazo de no máximo três anos, fecham. Uma exceção é o Downtown Pub, que está na ativa desde 1997. Se estiver na cidade e puder conhecer alguma boate recém inaugurada, corra. Mesmo sendo a primeira, pode ser a última vez que você vai entrar nela.