Por Nara Alves
Organizar informações para uma volta ao mundo dá um trabalho desgraçado. Antes, durante ou depois da viagem. Primeiro, porque há um Google inteiro de informações à disposição. Segundo, porque requer muita paciência separar a imensa porcaria daquilo que realmente vale a pena ler. A má notícia é que não existe pesquisa pronta, que basta descongelar por três minutos no micro-ondas. Uma volta ao mundo está mais para slow food.
Como nossa viagem foi feita sob medida por nós mesmos, as únicas pessoas capazes de dizer se determinado conteúdo era bom ou ruim éramos Bernardo e eu, além de alguns outros poucos viajantes que consultamos pelo caminho. O mesmo vale para todo viajante independente que se preze. Sei que tem gente que prefere não planejar. Pode dar certo também. Mas não foi o nosso caso.
O primeiro passo que demos foi – por mais simples que pareça ser – decidir uma data para iniciar a volta ao mundo. Marcamos para dali a um ano. Assim, tivemos tempo de juntar dinheiro e planejar. Para nós, estipular a data de início foi essencial para prever minimamente as condições climáticas para cada atividade. Por exemplo, se você quer esquiar, não vá no verão. Se quer mergulhar, não vá no inverno.
Uma vez marcada a data, rascunhamos num papel os nomes de todos os países e cidades que gostaríamos de conhecer. Rolou uma negociação. Eu não queria ir à China, mas Bernardo fazia questão. Bernardo não queria ir à Índia, mas eu fazia questão. Ambos cedemos e chegamos a um denominador comum. Fizemos, então, uma simulação do rascunho do roteiro, utilizando a ferramenta disponível pela One World, que vende passagens de volta ao mundo.
O segundo passo foi transformar o mapa numa tabela, considerando as estações do ano, e a quantidade de dias que gostaríamos de ficar em cada local. Essa tabela colorida ajuda a corrigir erros de rota e a prever datas para compra de passagens e emissão de vistos. Também ajudou a visualizar quanto tempo ficaríamos em cada lugar.
Assim, deu para balancear os países de acordo com o custo da moeda local. Para equilibrar, aumentamos o tempo de estadia nos países mais baratos. Ao mesmo tempo, diminuímos nos mais caros para compensar. No fim, o que fizemos foi um tanto diferente do planejado. De qualquer forma, fazer a tabela ajudou muito.
O terceiro passo foi simular a compra das passagens aéreas dos deslocamentos mais longos. Pesquisando em sites de comparação de passagens locais, usando as promoções nas companhias de baixo custo, prevendo que cada um de nós levaria uma mala com menos de 23 quilos (evitando, assim, pagamento de taxa por excesso de peso), deu para fazer uma estimativa de custo total.
A conclusão foi que a soma de todos os grandes deslocamentos seria igual ou ligeiramente superior ao valor da passagem de volta ao mundo oferecida pelas alianças, como a One World e a Star Alliance. Mas havia a vantagem de que comprar trecho por trecho nos permitiria mudar de ideia e viajar em ziguezague sem prejuízo. Decidimos assim comprar trecho por trecho.
O quarto passo foi determinar o orçamento. Há relatos na internet de gente que conseguiu viajar o mundo com 30 dólares por dia. Isso requer pedir carona, levar barraca para acampar e fazer couchsurfing. Com 50 dólares por dia já é possível ter um pouco mais de conforto, utilizando transporte público e dormindo em quartos privados nos albergues. Decidimos que juntaríamos o suficiente para viajar com 50 dólares por dia, incluindo passagens, hospedagens, alimentação e lazer nesta conta.
Fizemos, então, uma série de coisas mais ou menos úteis, que nos ajudaram a ter uma viagem tranquila. Elas são:
- tirar a permissão internacional para dirigir;
- tirar carteirinha de mergulho;
- tomar todas as vacinas para obter os certificados exigidos;
- providenciar números de fidelidade das companhias aéreas;
- fazer uma procuração para alguém resolver nossos problemas em caso de necessidade;
- pagar o INSS do ano sabático;
- fazer carteirinhas de albergues internacionais;
- fazer um seguro viagem.
Dos itens acima, somente o seguro viagem merece maior destaque. Nós optamos pelo World Nomads, um seguro internacional que garante a cobertura total das despesas, incluindo acidentes durante esportes radicais, de maneira ilimitada. Esta foi uma das maiores despesas da viagem. Custou 1,5 mil dólares por pessoa. E, felizmente, não usamos nenhuma vez.
Trecho do livro “66 histórias de uma volta ao mundo”
Preliminares, embora possam ser dispensáveis, são sempre bem-vindas. Tratando-se de uma viagem de um ano, as preliminares podem levar meses. Começamos, então, com uma pesquisa – muito chata – sobre vistos. Se eu fosse presidente do mundo, faria um visto planetário. Ou o inverso: decretaria que ninguém precisaria de visto pra lugar algum, até que se provasse o contrário. Mas, enquanto não me torno presidente do mundo, temos de nos submeter às regras truncadas da diplomacia.
Os vistos são um quebra-cabeça complicado que nos fez reduzir as nossas opções e mudar nossos planos um par de vezes. Cada país estabelece regras diferentes com base na cidadania do passaporte. De maneira geral, é muito mais complicado viajar com passaporte brasileiro, como é o caso do Bernardo, do que com passaporte japonês, que é o meu caso.
Queríamos começar nossa viagem pela África, indo sentido leste. Agora, no entanto, os Estados Unidos serão nosso ponto de partida, e vamos rodar sentido oeste. Quem é o culpado? O Japão. Explico.
O visto japonês para brasileiros deve ser emitido no Brasil e é válido por três meses, a contar do dia da emissão. Isso significa que teríamos até três meses para dar a volta em meio mundo. Como queremos aproveitar o tempo, sem correria, fomos forçados a inverter a viagem inteiramente.
Próximo post: Estados Unidos
Quem largaria um belo emprego na TV para sair pelo mundo experimentando as mais diversas culturas? Nara Alves. Acompanhada de seu namorado, Bernardo, entre 2014 e 2015 a moça se aventurou por 22 países da América do Norte, da Ásia, da Oceania, do Oriente Médio e da Europa.
Saiba mais: 66 histórias de uma volta ao mundo