Por Giscard Stephanou
O mundo do turismo é muito amplo e complexo. Dentro dessa ótica, o turismo religioso é um dos segmentos que mais tem crescido, mesmo em períodos de crise. As localidades que oferecem atrações religiosas estão entre os destinos mais escolhidos pelos turistas brasileiros e estrangeiros, sempre em busca de experiências ligadas à fé ou esperança. Além do mais, o turismo religioso pode colaborar no desenvolvimento socioeconômico sustentável para as comunidades de acolhimento, como no caso da Palestina, que tem capacidade turística e uma cultura muito rica.
Cada religião, seja o cristianismo, o islamismo, o hinduísmo, o budismo, entre outras, tem um ou vários lugares que considera sagrado, o que acaba formando “uma geografia da fé”, como afirmava o Papa João Paulo II. Exemplos: o Vaticano, para os católicos romanos; Jerusalém, cidade santa para os judeus, muçulmanos e cristãos; a cidade de Aparecida, onde fica a basílica da padroeira do Brasil, para os católicos brasileiros; Angkor Wat, no Camboja, para os budistas.
No Brasil, pesquisas do Ministério do Turismo revelam que, na Região Nordeste, o turismo religioso é o segundo tipo de turismo mais comercializado, atrás somente daquele ligado ao sossego do sol e à praia. Juazeiro do Norte, no Ceará, que recebe cerca de 2,5 milhões de devotos de Padre Cícero por ano, e Bom Jesus da Lapa, na Bahia, são 2 pontos de peregrinação importantes.
Em Aparecida, cidade do interior de São Paulo, a movimentação de visitantes ao Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida é de 12 milhões de romeiros por ano (números de visitantes em 2015 e 2016). Na prática, a cidade vive do comércio e da movimentação gerada pela visita de pessoas de todo o Brasil, que vão à Aparecida para pedir graças ou agradecer à Padroeira do Brasil. E, com certeza, muito disso se deve ao fato do Brasil ser o país com o maior número de católicos do mundo, aproximadamente, 140 milhões de fiéis.
Classificações para uma viagem de turismo religioso:
- Romaria: quando romeiros vão aos lugares sagrados para conhecer o local e a religião;
- Peregrinação: quando peregrinos cumprem promessas ou votos de divindade;
- Penitência: quando fiéis buscam se redimir de pecados, praticando sacrifícios durante a visita.
Motivos que têm colaborado para o crescimento do turismo religioso:
- A fé das pessoas e a prática religiosa como fator motivacional para buscar este tipo de turismo, como, por exemplo, visitas às catedrais de cidades europeias ou sul-americanas, o que está ligado à necessidade de estar em locais onde a fé apresenta mais intensidade.
- A busca de felicidade, que não só faz as pessoas viajarem para praticar o turismo em uma cidade, ou país, como também para ajudá-las a dar mais ânimo. No caso dos idosos, a felicidade ajuda a formar um importante segmento desse tipo de turismo.
- Também estão ligados a acontecimentos religiosos em cidades e/ou países importantes religiosamente, como, por exemplo, a peregrinação para a cidade de Fátima, em Portugal, ou para Santiago de Compostela, na Espanha, que recebem um enorme número de turistas.
Os destinos mais religiosos do mundo:
- Cidade do Vaticano (Vaticano): o centro da Igreja Católica é considerado um estado independente dentro de Roma, Itália. Local da Basílica de São Pedro, maior igreja do mundo, e da espetacular Capela Sistina.
- Jerusalém (Israel): A Igreja do Santo Sepulcro foi construída no local onde Jesus de Nazaré foi crucificado e sepultado por três dias antes da ressurreição (importância cristã). A cidade é também a capital eterna de Israel e onde se encontra o Muro Ocidental, também conhecido como o Muro das Lamentações (judia), o terceiro lugar mais sagrado do Islamismo (muçulmana) e ainda pode ser considerada a capital de um “futuro” estado (palestina).
- Meca (Arábia Saudita): o local mais sagrado do Islamismo e destino obrigatório para todo muçulmano fazer a peregrinação, pelo menos uma vez na vida. No centro da cidade de Meca está o santuário Kaaba, local de adoração de todos os muçulmanos por guardar a pedra preta, que foi entregue a Abraão pelo Arcanjo Gabriel.
- Cidade do México (México): a Basílica de Guadalupe é o principal santuário católico da América e o segundo mais visitado no mundo, perdendo apenas para a Basílica de São Pedro.
- Santiago de Compostela (Espanha): o famoso Caminho de Santiago leva, de diversos pontos da Europa, fiéis católicos para a cidade que abriga as relíquias (como o manto) de São Tiago, um dos apóstolos de Jesus.
- Fátima (Portugal): local de aparições da Virgem Maria e onde fica o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, que atrai milhões de devotos.
- Aparecida do Norte (Brasil): o maior santuário do Brasil e o segundo maior no mundo (atrás apenas da Basílica de São Pedro), com capacidade para 45 mil fiéis. Onde está a imagem de Aparecida, a padroeira do Brasil.
- Angkor Wat (Camboja): a maior estrutura religiosa já construída é também um dos tesouros arqueológicos mais importantes do mundo. Hoje, é símbolo do Camboja e tem importante significado budista.
- Istambul (Turquia): a Mesquita Azul é a maior mesquita de Istambul e um grande símbolo religioso para os muçulmanos que visitam a capital turca, sendo considerada uma das obras-primas do mundo islâmico.
- Varanasi (Índia): a cidade mais sagrada para o Hinduísmo, e também considerada sagrada para o Jainismo (religião indiana), assim como para o Budismo.
Turismo que transforma
Temos também exemplos de algumas práticas que acabam sendo adaptadas ou alteradas por conta do turismo. Nos Emirados Árabes Unidos, um país oficialmente muçulmano e com turistas de todas as partes e religiões do mundo, os costumes do islamismo não são tão fortes como nos países vizinhos do Oriente Médio. Em Dubai, alguns restaurantes oferecem cardápios com bebidas alcoólicas, artigo proibido pela lei islâmica, para acolher os turistas.
A cidade de Bangkok, capital da Tailândia, é um dos maiores destinos turísticos do mundo. Como quase 95% dos tailandeses seguem o budismo, mais de 30 mil templos estão espalhados por todo o país, como o famoso Templo do Buda de Esmeralda (dentro do Grande Palácio), e são visita obrigatória para todos os turistas.
Hoje, não vemos mais fronteiras entre turismo e religião, fazendo com que o turismo religioso esteja em constante desenvolvimento. Além da prática religiosa e busca espiritual, vemos que os turistas, sejam eles romeiros, peregrinos ou não, geram muitos empregos e renda para as localidades que vislumbrarem esse segmento como um meio de expansão econômica. Ou seja, todos estes destinos são núcleos importantes em termos de fé e em termos de turismo.
Além disso, foram criadas muitas condições de consumo no campo religioso, que acabam movimentando a economia, já que os viajantes, romeiros e peregrinos injetam recursos nas localidades com gastos em hospedagem, alimentação, compra de produtos religiosos e artesanais, entre outros.
Por isso, o turismo religioso adquire um papel importante no contexto das relações inter-religiosas entre as nações, pois requer a abertura de fronteiras e estimula a tolerância e o respeito pela cultura do outro país, de outra religião.
Beneficia o encontro de adeptos de diversas religiões, em busca de um dialogo universal extremamente benéfico para a desconstrução de um mundo polarizado, onde a busca espiritual aproxima culturas, que durante muito tempo foram estranhas entre si, e países com orientação política e situações econômicas muito diferentes.
Também contribuirá para o bem-estar social e das nações, além de auxiliar no processo da busca paz mundial, já que todos os turistas, romeiros, demais envolvidos, poderão ter melhor compreensão do outro.