Por Rodrigo Bertoluzzi
A Cidade
À primeira vista, La Paz pode parecer como qualquer outra grande cidade. O trânsito caótico, as ruas lotadas, os altos prédios e as favelas que rodeiam a capital administrativa da Bolívia corroboram para fortalecer essa imagem.
No entanto, se engana quem pensa que Laz Paz fica restrita a essas características. Nos arredores da cidade, se localiza um dos mais imponentes e perigosos locais de aventura da América Latina: a Carretera de la Muerte (Estrada da Morte).
Um pouco da história
A rodovia liga La Paz à localidade de Los Yungas e foi construída por prisioneiros paraguaios da Guerra do Chaco, ocorrida em 1930. O nome atribuído ao caminho que conecta as duas cidades já antecipa aos viajantes que não serão poucas as dificuldades no trajeto de 67km.
O Camino de la muerte, como também é chamado, foi eleito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, em 1995, como a estrada mais perigosa do mundo. Não é para menos: a estrada de chão, a 4700m de altitude, é repleta de pedras e curvas (algumas com quase 180º) e soma mais de 200 mortes por ano.
Para piorar, em períodos chuvosos, desabamentos de terra e pedras são constantes. Além disso, em certas partes a estrada não possui mais que 3m de largura. São nessas zonas que estão a maioria das cruzes espalhadas, homenageando as milhares de pessoas que ali perderam a vida.
Devido aos inúmeros acidentes ocorridos na rodovia, o governo boliviano decidiu proibir, desde 2006, a passagem de automóveis por lá. Atualmente há uma estrada (bem menos perigosa) que liga Laz Paz a Coroico.
Como chegar
Para os corajosos e amantes de adrenalina que desejam experimentar a emoção de vencer a Carretera de la Muerte, há a possibilidade de percorrer o caminho de bicicleta, algo bastante seguro. Para isso, basta procurar uma das dezenas de agências que fazem o trajeto.
A Barro Biking e a Gravity são as empresas mais buscadas pelos aventureiros. Essas agências oferecem todo o material (bicicleta, capacete, cotoveleiras, luvas, joelheiras, calça e jaqueta), traslado de van até o cume da montanha, lanche, almoço, um arquivo de fotos e vídeos do caminho percorrido pelo ciclista, além de um guia que acompanha cada grupo de 5 ciclistas.
Os preços variam de 120 a 300 reais, dependendo da qualidade das bicicletas. A maioria dessas agências pode ser encontrada na Rua Sagarnaga, a apenas meia quadra do carismático Mercado de las Brujas, na capital boliviana. Lá, simpáticas senhoras trajando as tradicionais vestimentas bolivianas vendem desde ervas medicinais até lhamas secas, que ficam expostas na porta de suas tendas.
A descida
O percurso é feito em duas partes. A primeira delas é constituída por 16km de descida bastante íngreme pelo asfalto. Durante esse trajeto, as bicicletas dividem espaço com ônibus, caminhões e carros. Curvas fechadas e velocidade próxima dos 60km/h garantem uma boa aventura logo no início.
Apesar da constante neblina que acompanha os ciclistas, é possível admirar as belas paisagens bolivianas. Formações rochosas, montanhas e cachoeiras podem ser vistas de mirantes localizados à beira do asfalto.
Na segunda parte do trajeto, que se inicia na localidade de Unduavi, o asfalto dá lugar à poeira e às perigosas curvas. Se antes a adrenalina já estava presente, neste momento ela fica à flor da pele e qualquer erro pode custar caro. Pedras soltas, poças de lama e estrada escorregadia são garantias de tombos, mesmo para os mais experientes. Além disso, a visão fica bastante comprometida devido à forte neblina, que neste momento do percurso fica mais intensa.
Por isso, é essencial a escolha de uma boa agência que ofereça equipamentos de proteção adequados. O cuidado nas curvas do Camino de la Muerte deve ser redobrado e aqueles que não possuem muita prática com bicicletas podem pedalar no ritmo que se sentirem mais seguros, uma vez que há locais em que o viajante pode despencar de uma altura de 800m.
Afinal, vale a pena arriscar?
Apesar do perigo, a exuberância da paisagem vista da estrada faz com que qualquer tipo de temor fique em segundo plano. A natureza praticamente intacta, as quedas d’água que jorram no meio da estrada e refrescam o ciclista e as plantações de coca que podem ser apreciadas durante a descida dão ao percurso um ar mais tranquilo.
O sentimento de chegar ao pé da montanha são e salvo (talvez com uns poucos arranhões) é único. A paz de espírito e a confiança que uma experiência como essa traz à pessoa são inigualáveis. Ao terminar o percurso da Carretera de la Muerte, o viajante terá realizado uma façanha que, infelizmente, nem todos conseguiram. Por isso, aqueles que completam o percurso dessa aventura emocionante recebem uma camiseta com os dizeres: “Eu sobrevivi à Estrada da Morte”.