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23.08.2016

Como viajar de carona pela Patagônia

Viajar de carona, algo totalmente possível
Plaquinhas ajudam na hora de viajar de carona | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

Por Camila Bertassoni

 

Assim como tudo na vida, viajar de carona pela Patagônia tem seus lados positivos e negativos. Tem que ter disposição para andar pra lá e para cá com mochila nas costas, paciência com informações mal dadas ou erradas, e tranquilidade para esperar pela caridade alheia que pode te deixar 10 minutos ou um dia inteiro plantada na beira de uma estrada.

 

Mas não é impossível, não é esse bicho de sete cabeças que muitos pensam. Tanto para mulheres quanto para homens. Eu e minha grande amiga e companheira de aventuras lá da Suíça, Elena Gandillon, somos a prova disso. Vou te dar algumas dicas de como nós, “duas meninas indefesas” conseguimos ir de Buenos Aires até a Patagônia só pedindo carona.

 

 

Não sei o quanto tivemos de sorte por só termos encontrado boas pessoas pelo caminho e por termos escutado as mais diferentes histórias. Sempre conseguimos carona muito rápido (e com direito aos mais diferentes presentes), algo totalmente novo para nós.

 

Camila Bertassoni (arquivo pessoal)
Os amigos que fizemos pelo caminho – parte 1 | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

Mas acredito que a simpatia e o respeito pelos diferentes costumes argentinos nos ajudaram muito. Éramos sempre convidadas a comer e dormir na casa das pessoas. Chegaram a nos oferecer dinheiro pelo caminho pensando que passaríamos fome. Pequenos gestos fazem tudo valer a pena, como uma garrafa de refrigerante gelada em um dia muito quente, oferecida por um senhor muito humilde que morava em um barraco na beira da estrada.

 

Passamos a virada do ano na casa de uma família em Rada Tilly, uma pequena cidade lá no Sul, com muita comida, bebida e música típica. Tocaram violão, teclado e cantaram para a gente, pediram para cantarmos músicas brasileiras e suíças e assim fomos até às 5h da manhã! Agradeceram muito nossa aparição dizendo que animamos muito seu Ano-Novo.

 

Os amigos que fizemos pelo caminho - parte 1 | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)
Os amigos que fizemos pelo caminho – parte 2 | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

Foi um boom de tanta gente solícita que eu nunca tinha visto na vida. Mas então isso que me fez questionar: será que eu nunca vi isso simplesmente por nunca ter me colocado à mercê da boa vontade dos outros antes? Por sempre ter vivido no meu quadrado autossuficiente, na minha zona de conforto?

 

E a resposta veio na hora: com certeza! Existem pessoas boas em todo mundo e existe muita história de vida e ensinamentos por trás de cada uma delas. Viaje mais, acredite mais na bondade lá fora e veja com seus próprios olhos que nem o Brasil nem o mundo são esse caos que te fazem acreditar.

 

Viajamos durante 18 dias, entre o final de 2013 e início de 2014, e gastamos cerca de US$500 cada; na época o dólar estava cerca de R$2,80-R$3. E nossa despesa só custou isso tudo porque fizemos vários passeios turísticos em Puerto Madryn e que não foram exatamente baratos.

 

 

Agora vamos passear um pouco?

 

Buena suerte amigo!

 

Aqui ficam minhas dicas:

 

1.Tente não ir sozinho(a)

Saindo de Buenos Aires | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)
Saindo de Buenos Aires | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

Facilita muito ter pelo menos uma pessoa a mais. Além de você ficar menos vulnerável e ter com quem dividir as despesas, especialmente de mercado, dessa maneira um pode tomar conta das mochilas enquanto o outro pede informações, e é possível também revezar a vez de quem fica na beira da estrada pedindo carona.

 

2. Tenha sempre dinheiro para emergências

Sempre vai ter aquele dia que você vai estar muito cansado e não vai conseguir carona. No nosso último destino, só não precisamos dormir em uma barraca no meio da estrada deserta porque passou um ônibus para a cidade durante a madrugada e tínhamos dinheiro para pagar.

 

É bem legal também ter um agrado para dar para quem te ajuda, pode ser um presentinho, chocolates ou algo assim. Todos ficavam felizes e, de alguma forma, acaba sendo um incentivo para quem dá carona. Lembre-se que eles também estão se pondo em risco ao colocarem desconhecidos no carro.

 

3. Carregue um kit de acampamento

Camping em Bahía Blanca – acampar às vezes é a única alternativa | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)
Camping em Bahía Blanca – acampar às vezes é a única alternativa | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

Uma barraca pequena com um saco de dormir e um colchão inflável (ou não) é fundamental! Pedir carona dia após dia é cansativo, e nada como arranjar uns balneários ou praias pelo caminho para acampar de vez em quando.

 

4. Leve poucas roupas

Use o espaço da sua mochila com o que você for realmente usar. Sei que o desapego é difícil, mas se esforce para não se arrepender como eu. Levei roupa demais e nada de sobrevivência (kit médico e saco de dormir, por exemplo.). Acabei carregando muito peso, pedindo coisas emprestadas, dormindo em cima das minhas roupas no chão duro (por não ter levado colchão inflável nem saco de dormir) e, por consequência, passando MUITO frio.

 

Você vai estar praticamente a cada dois dias em uma cidade diferente, com pessoas diferentes! Três mudas de roupa são mais do que suficientes. As pessoas que você conhecer pelo caminho vão estar tão interessadas nas suas histórias que nem vão reparar no que você veste. Guarde espaço para o que importa: um bom par de tênis e de Havaianas, lanterna, canivete, mini kit médico de emergência e o kit de acampamento.

 

5. Peça para ser deixado em lugares movimentados

Saindo de Buenos Aires | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

Para todos os lados nas estradas da Argentina existem Estacíon de Servicios que são como postos de gasolina grandes que também vendem comida, bebida e possuem banheiros. O legal é que ficam abertos 24h então é sempre bom pedir carona ali ou ser deixado perto de um lugar como esse. Caso escureça e você não esteja conseguindo alguém que te leve na direção pretendida, pode permanecer na estación. Aliás, nas estaciones sempre têm muitos caminhões parados e você pode até conseguir uma carona se perguntar o destino dos motoristas.

 

6. Saia dos centros das grandes cidades para começar a pedir carona

De carona pela Ruta Nacional | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)
De carona pela Ruta Nacional 3 | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

As estradas mais importantes da Argentina são as Rutas Nacionales e são por essas vias que você vai de norte a sul. Para quem tem Buenos Aires como ponto de partida e vai seguir pela costa até a Patagônia, a estrada a ser pega é a Ruta Nacional nº 3. Para chegar ao início dela pegue o ônibus 88, da Lineares S.A., em frente à praça da Estación Consticución, uma das três estações de trem de Buenos Aires. Peça para descer no início da estrada, e fique atento à direção certa para ir ao sul.

 

7. Comece o dia cedo

Próxima parada: Mar del Plata | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)
Elena pedindo carona – próxima parada, Mar del Plata | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

Acordar cedo nos dias de pegar a estrada é fundamental porque nunca se sabe quanto tempo vai ser preciso até aparecer aquela carona ou se vão ser necessárias várias paradas pelo caminho. De dia tudo é sempre mais seguro, inclusive chegar em uma nova cidade. À noite, sem conhecer o lugar, acabamos pegando táxis e mais táxis, desperdiçando dinheiro.

 

8. Pesquise antes o que mais te interessa

Gosta de praia, animais marinhos e de festas? Vá pela costa, como eu fiz, e visite Mar Del Plata e Puerto Madryn. O primeiro é interessante porque tem praia, surfe, gente bonita e vida noturna. O segundo porque proporciona todo o contato com a vida marinha da Patagônia. Te encanta a Cordilheira dos Andes, as lagunas e geleiras? Vá em direção à fronteira com o Chile e passe por Mendoza e Bariloche, a caminho da Patagônia, e inclua El Calafate e Ushuaia.

Mar Del Plata
Badalado destino para o verão argentino | Camila Bertassoni (arquivo pessoal)

 

Visite essa cidade costeira se quiser uma parada na praia para surfar e para aproveitar o agito à noite. Já aviso que as praias não são tão bonitas quanto as brasileiras, mas é uma cidade de veraneio, onde os argentinos de quase todos os cantos do país vão na alta temporada (de dezembro a fevereiro). As boates abrem todos os dias e, se quiser aproveitar, vá com disposição porque o ritmo não para! São festas, shows, eventos e muita badalação até as 6 da manhã.

 

Puerto Madryn
Puerto Madryn, porta de entrada para a Península Valdés | Camila Bertassoni
Puerto Madryn, porta de entrada para a Península Valdés | Camila Bertassoni

 

Nesta cidade é possível mergulhar com lobos marinhos, praticar snorkeling, andar de caiaque e cavalgar pelas dunas e praias. É também a principal cidade para conhecer a Península Valdés, área de reserva reconhecida pela Unesco como Patrimônio Ambiental, a 100 Km de distância.

 

Na Península Valdés observa-se leões-marinhos, elefantes-marinhos, focas e pinguins em seu habitat natural, além de guanacos, tatus, avestruzes, entre muitas outras espécies. O mar é uma mistura de azul com esmeralda e pelo caminho passa-se por lagunas lindas. Para almoçar, uma boa pedida pode ser os restaurantes especializados em frutos do mar de Puerto Pirámides, único vilarejo da Península Valdés.

 

Moradores da Peínsula Valdés | Camila Bertassoni
Moradores da Peínsula Valdés | Camila Bertassoni

 

Você pode fazer um tour de um dia pela península, cujo trajeto total contempla mais de 380 Km e dura um dia inteiro, começando às 7h. A alta temporada na Península Valdés vai de setembro a novembro, durante a famosa época de visualização de baleias – esse é considerado um dos melhores lugares do mundo para essa atividade.

 

Em Puerto Madryn, indico o Hostel El Gualicho; central, é muito bem estruturado e custa em média R$45 por noite no quarto compartilhado de 6 camas. Tem café da manhã e wi-fi incluso, além de cozinha, ideal para comprar comida no mercado e cozinhar. O hostel oferece pacotes de todos os tours que a cidade dispõe.

 

Saiba mais:

 

9. Pesquise a melhor época para ir

Se, assim como eu, você tem problemas com frio, vá no verão. Janeiro é um ótimo mês para visitar as cidades com praia. Mar Del Plata, por exemplo praticamente não existe no inverno e Puerto Madryn pode chegar a temperaturas negativas.

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