Por Felipe Parma
Digo “descoberta “ pois não sabia muito bem o que esperar da Patagônia e, muito menos, de El Chaltén. Incluí essa cidadezinha no meu roteiro de viagem porque um amigo que fiz em um albergue em Ushuaia disse: tente ir a El Chaltén, vale muito a pena. E, realmente, valeu muito! Descobri, além da paisagem espetacular, o trekking, o silêncio absoluto, o cansaço físico em seu limite, e a determinação em sua pura essência.
Como chegar ao desconhecido?
Na verdade, é bem fácil. Estava incluída no meu roteiro, a cidade de El Calafate, também na Argentina. De lá até El Chaltén são 3h de carro ou ônibus, por uma estrada tranquila e bem asfaltada. Como tinha pouco tempo, comprei na rodoviária de El Calafate a passagem de ida e volta para o mesmo dia.
Na época, comprei com um dia de antecedência sem maiores problemas, e o ônibus, diário, tinha saída às 6h30 da manhã. Durante a viagem já era possível ver o imponente monte Fitz Roy e sua cadeia montanhosa surgindo aos poucos em meio à paisagem desértica. No percurso, também era possível ver os famosos e estranhos guanacos. A estrada em si já é um espetáculo.
Há uma apresentação de boas vindas feita por guias na entrada do Parque Nacional los Glaciares, onde a cidade de El Chaltén se situa. Então, antes de chegar à rodoviária, você receberá alertas, instruções e dicas sobre as trilhas a serem desbravadas. No meu caso, como iria passar só um dia por lá, ao chegar na rodoviária, já fui andando rumo ao início da trilha. Foi uma caminhada de, aproximadamente, 1,5km pela Avenida San Martin, a principal da cidade.
A cidade
É um reduto de montanhistas e mochileiros. Apesar de bem pequena e deserta, tem restaurantes e albergues que dão conforto aos visitantes que permanecem por lá. Não tive a oportunidade de conhecer os serviços, nem de conferir a qualidade das estruturas, mas me pareceu tudo dentro do normal. De fato, gostaria de ter ficado lá mais alguns dias.
Como dito anteriormente, El Chaltén fica na província de Santa Cruz, perto da fronteira com o Chile. A cidade faz parte do Parque Nacional Los Glaciares, criado em 1937, e declarado Patrimônio Mundial pela Unesco, em 1981. Não é cobrada nenhuma taxa de entrada. No final dessa pequena localidade estava o início da trilha que me levaria ao desconhecido.
A trilha
Todas as trilhas são bem sinalizadas, o que permite realizar qualquer percurso sozinho. Escolhi fazer a trilha de 12,5km que me levava à Laguna de los Tres, aos pés do monte Fitz Roy e seus 3.405m de altura. São, aproximadamente, 10 horas de caminhada em um ritmo normal. É uma trilha relativamente fácil até os 10,5km.
Mas, a partir dali, o terreno vai se tornando muito íngreme, com pedras soltas e, às vezes, escorregadias. Não há postos de parada, banheiros, lixeiras ou restaurantes no caminho. Então leve comida, água e um saco plástico para recolher o lixo gerado por você. O abastecimento de água pode ser feito nos rios, onde a placa sinaliza água potável. É fundamental também ter botas impermeáveis para trekking e roupas adequadas para trilhas.
Foi aí que conheci o limite do cansaço físico, silêncio absoluto e determinação. A trilha desgastante te leva a algo precioso, que faz valer cada dor nos pés e nas costas, e cada sensação de frio, sede e fome sentida. A Laguna de los Tres me fez esquecer até que eu teria que fazer a trilha de volta. A paisagem, assim como a trilha, é de tirar o fôlego. Um lago verde esmeralda, cercado por picos gigantescos de granito com neve acumulada nas bases. Algo indescritível.
Qual a melhor época do ano para ir?
Fui em abril e o clima estava ótimo. A época ideal é no verão até inicio do outono, isto é, de dezembro a abril. No inverno, há a grande possibilidade de fechamento das trilhas em função da neve e dos fortes ventos. De qualquer forma, se você curte trekking e natureza na sua mais pura essência, vá. Não perca a oportunidade de descobrir essa grandiosidade.