Por Ana Lúcia Mendes Antonio
Naquele dia 22 de abril, depois de superar trechos de estrada, entre outras possibilidades de caminho, nos deparamos com duas placas: à esquerda, o farol de Cape Point; à direita, o Cabo da Boa Esperança. Breve hesitação. E o carro seguiu para a direita.
Estava no Cabo da Boa Esperança. Em 1488, ele foi batizado por Bartolomeu Dias como Cabo das Tormentas, ponto de referência navegacional que tantos naufrágios ao longo dos séculos testemunhou com suas traiçoeiras rochas. Por mais que estivéssemos rodeados de ônibus e carros que não paravam de despejar turistas, aquele me pareceu um ambiente intocado.
Há uma trilha ao lado da famosa placa com as coordenadas geográficas onde todos os visitantes posam para fotos. Alcançamos o topo sob sol forte, mas sem maiores problemas. No alto, a superfície é bastante irregular – sentando-se sobre uma das formações rochosas, de um lado, vê-se o mar; do outro, montanhas ao longe. Quase não há vegetação, a superfície é clara e ondas de um esverdeado leitoso quebram nas rochas mais escuras da base. Muitas algas de cor castanha boiam a esmo. Aquele é o ponto mais ao sudoeste da África do Sul.
A visita na direção do lado esquerdo da placa foi breve: vimos o farol de Cape Point apenas à distância, sem nos arriscarmos na subida a pé de quase 1h, de acordo com o que nos disseram, ou de teleférico, este pela bagatela de 52 rands (11 reais), ida e volta, ou 42 rands (9 reais), só ida, para adultos. Mesmo se aventurando na viagem que dura 3min e percorre 585m, até alcançar 87m de altitude, você ainda precisa andar um pouco se quiser chegar ao ponto extremo da península.
O primeiro farol foi concluído em 1859 – ele ainda está lá, a 249m acima do mar, no ponto mais alto do pico, e funciona como central de monitoramento de todos os faróis da costa sul-africana. Além disso, os arredores têm placas indicando distâncias até cidades famosas do mundo, como Rio de Janeiro, a 6.055m, ou Nova York, a 12.541m dali. Sem pressa, o visitante pode se perder pelas belas trilhas por todo o dia. Há muito a se ver no parque.
Última parada: de improviso, resolvemos almoçar no Cape Farmhouse. Foi uma das escolha mais acertadas. O lugar amplo, de ares simples, se mostrou ideal para a apreciação de uma refeição sem pressa, revigorante. Não deixamos de lado o vinho – orgânico –, e ainda compramos garrafas para ocupar espaço na bagagem. Na saída, um aceno do simpático garçom.
No final do dia, tivemos tempo para um último pôr do sol. Na beira da praia, já em Cape Town, observamos o céu se confundir em variados tons de rosa, até a luz do dia ser engolida pelas águas escuras. Pessoas faziam cooper, outras passeavam com cachorros; todas indiferentes ao fato de que no dia seguinte já não estaríamos mais ali.