Por Daniel Carnielli
Brumadinho, em Minas Gerais, é uma pequena cidade com aproximados 35 mil habitantes, localizada a cerca de 60km do centro de Belo Horizonte, a capital. Escondido em meio dela está o maior museu a céu aberto do planeta, Inhotim. Sua incrível e receptiva estrutura reserva junto à belíssima vegetação, surpresas e experiências que valem a pena ser vividas.
O nome Inhotim é uma homenagem ao “dialeto” mineiro, já que os locais se referenciavam à fazenda e ao seu antigo proprietário: senhor Tim, pronunciado como Nhô-Tim, fora então eternizado como Inhotim.
Idealizado pelo empresário Bernardo de Mello Paz, desde meados dos anos 80, o Instituto Inhotim destina-se à divulgação da arte como forma de desenvolvimento humano sustentável por meio da arte contemporânea, jardim botânico, ciência, biologia e constante envolvimento do ensino. O Instituto permite, inclusive, que escolas da região se beneficiem de sua estrutura e de seus profissionais. Em constante desenvolvimento, Inhotim oferece aos visitantes a oportunidade de conhecer um museu diferente de todos os outros até então.
A botânica, fortemente influenciada por Roberto Burle Marx, prioriza a beleza em todas as épocas do ano através da diversidade de folhagens, sem dar aquele tradicional foco somente nas flores. Cada área do parque exibe diversos segmentos, como cerrado, mata atlântica, deserto, grandes árvores, lagos, grandes áreas abertas, morros.
Em uma área de 5 mil acres, algo em torno de 20 mil metros quadrados, observamos e admiramos a natureza muito bem cuidada em cada detalhe. As obras em grande parte são especialmente interativas e, no significado profundo do entendimento da arte, convidam-nos a tirar nossas próprias conclusões.
Para visitar Inhotim por completo – vale a pena – são necessários ao menos dois dias. Se a caminhada não agradar, não tem problema, o parque oferece carrinhos elétricos, opção de mobilidade para facilitar a locomoção entre as atrações.
Entre as diversas atrações itinerantes ou permanentes, me reservo a comentar apenas algumas que chamaram mais a atenção. Também porque não caberia em um único post comentar todas.
Sonic Pavillion
Você já imaginou ouvir o som da Terra? O que você sentiria ao fechar seus olhos e ouvir o som emitido por nosso planeta, vivo, debaixo de seus pés? Construído em 2009, o Sonic Pavillion permite que o visitante ouça o ruído da movimentação do planeta reverberado por um túnel de 202 metros de profundidade, que emite constantemente frequências hipnotizantes e arrítmicas.
Seu idealizador, Doug Aitken, proporcionou tudo isso em um espaço moderno e agradável feito de aço e vidro. Fechando os olhos podemos sentir a grandeza deste planeta, infinitamente maior que nossa pequena existência. Para mim, um dos ápices do passeio.
Galeria Adriana Varejão
Expõe a arte pretensiosa que busca trazer à tona temas da vida e do passado. Texturas, materiais, fotografia, morte e luz. De uma forma curiosamente agradável, vale a pena apreciar suas obras.
Galpão George Bures Miller – Janet Cardiff
Entre, caminhe, escolha uma cadeira e então sente-se. Silêncio, pois o concerto está prestes a começar. Neste galpão, dezenas de caixas acústicas de alta definição reproduzem, de forma independente, uma orquestra. Acrescente isso ao som de um gramofone emanando a voz de uma mulher. Uma experiência realmente incrível. Imagino que poucas pessoas já tenham escutado uma orquestra tocando ao seu redor. Qual a música? Qual a história contada nela? Não vou estragar a surpresa, visite.
Infelizmente, não é permitido tirar foto dentro das atrações.
Beam drop
Chris Burden deve ter realizado algum sonho de infância ao construir esta obra. Um guindaste simplesmente despeja vigas de metal em um solo com concreto, que lá estão até hoje. Sua obra curiosa e agradável é um deleite aos fotógrafos e admiradores de ângulos fora do comum. Deve ter sido realmente divertido construir essa.
Hora do rango!
O almoço no restaurante Tamboriu dá ao visitante (já esfomeado) a oportunidade de apresentar a arte também às suas papilas gustativas. Este momento foi literalmente delicioso! É uma culinária exemplarmente bem servida, principalmente se acompanhada do vinho sugerido pelo restaurante. Não é barato, mas a considerar a sua exclusividade, incluindo a sua localização, acho justo pagar mais e tornar este momento também um dos ápices do passeio.
No parque há também o restaurante Oiticica, que oferece comida por quilo de excelente padrão e sobremesas deliciosas por um custo compatível aos bons restaurantes comuns dos centros urbanos.
Viewing Machine
Quantas formas diferentes existem para enxergarmos as mesmas coisas? Olafur Eliasson convida a ver e aguçar a percepção do quê há ao redor através do Caleidoscópio, nome que vem das palavras gregas kalos (belo), eidos (forma) e scopos (observador), ou seja, observador de belas formas. O equipamento é composto por seis espelhos grandes o suficiente para brincarmos à vontade com as formas das paisagens ao redor da obra de arte.
Piscinas
Inhotim tem duas piscinas. A atração Galeria Cosmococoa, que não pode ser fotografada, pois é fechada, e a deliciosa piscina de Jorge Macchi, que deve ter pelo menos 1,70m de profundidade. Sua escada e seu piso a fazem parecer uma agenda, que era a ideia do artista ao concretizar nesta obra um de seus desenhos bidimensionais.
De Lama Lâmina
Dentro desta bela construção escondida dentre a mata há a representação da lâmina que poda a natureza. Matthew Barney exibe de forma imponente o contraste causado pelo homem, que devasta para construir.
Acesso
Informe-se sobre a agenda do parque no próprio site: www.inhotim.org.br.
Quem mora próximo pode aproveitar a terça-feira, dia da semana em que o acesso ao parque é gratuito.
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