Por Pedro Henrique Ferreira
Se a terra fosse um único estado, Istambul seria a sua capital
Napoleão Bonaparte
Mahrabá, Mahrabá!
É a palavra que mais se ouve por Istambul, mais precisamente ecoada no tão famoso Grande Bazar, quando os turcos avistam turistas perdidos em seus olhares observando tapetes pendurados decorando as barracas, coloridos lustres brilhosos, doces exóticos, mantas bem desenhadas, chás, especiarias, jóias, cores, muitas cores, gritos de um caos instalado entre turistas e vendedores.
E estes, convidando a provar suas mercadorias para, logo após, oferecerem primeiramente seus preços turísticos e se prontificando a barganhar com as recusas dos turistas se preciso for…
A negociação é arte que os árabes prezam e guardam com um excelente domínio. Neste mercado, símbolo da cultura árabe e da Turquia, de alguma maneira aprendemos técnicas de negociar (pode ser também chamada de arte de enganar), depois de tomar muitas e muitas “voltas”.
Só a partir do momento em que começamos a entender como funciona realmente a arte da barganha, estamos prontos pra não tomar uma outra “volta” de algum vendedor espertinho, e continuar nossas tentativas.
Situado no coração da cidade velha, construído em 1461 por Mehmet, O conquistador, o mercado é feito exclusivamente para turistas, ávidos para conhecer o agitado Grande Bazar e comprar suas lembranças.
Tão agitados também ficam os nossos sentidos ao maravilharmos com a exuberância dos produtos por toda a parte, e a diversidade de gente se trombando pelos corredores da parte interna do mercado.
Os preços por ali, na maioria das vezes, são um pouco salgados, mesmo negociando e arrematando numa boa pechincha. O segredo é sair do mercado e caminhar ao redor pelas lojinhas onde tudo costuma sair mais em conta.
Istambul, que um dia foi Constantinopla e sede dos Impérios Bizantino, Romano e Otomano, localiza-se no limite entre o Ocidente e o Oriente (se Istambul tivesse 100 pessoas, 65 morariam no lado europeu e 35 no lado asiático).
E é o Estreito de Bósforo que divide essa linha imaginária, pois nos dois lados há uma mistura entre a grande maioria muçulmana e a minoria ocidental. Isso acontece por quase todo o país, exceto em regiões mais distantes dos grandes centros.
O Bósforo é o rio que faz a divisão entre os continentes, que desde o período clássico é um dos mais importantes pontos de acesso da região, se estendendo do estreito de Eminönü até a entrada do Mar Negro.
Ao atravessar o Bósforo pela ponte de Galáta, ou ao passear de balsa pelas maravilhosas paisagens (quando se pega um catamarã que leva os turistas a todo tempo para deslizar pelas águas do rio), nos deparamos com palácios, mansões e a vista de mesquitas imponentes que reinam sobre a parte mais alta da cidade, misturando-se à natureza da região.
Nas margens do estreito, onde existem diversos restaurantes que servem um saboroso peixe frito com legumes acompanhado de chá turco, é possível sentar-se e maravilhar-se com a paisagem junto ao Bósforo. Esse importante estreito é uma das marcas da cidade, é quem aparece junto das mesquitas nos cartões postais vendidos aos turistas pelas ruas.
Dersaadet, a cidade da felicidade ou da paz como era chamada Istambul, é espetacular pra quem adora cultura: dá para fazer ótimos passeios, comer comidas típicas sem gastar muito, andar com tranquilidade e aprender história dos povos antigos; sem contar com a hospitalidade calorosa dos turcos que é tão notória que nos sentimos em casa.
Em meio ao caos de gente (calcula-se que haja 95 pessoas por m², proporção que, claro, deve dobrar dada a quantidade de turistas), de turcos convidando ou chateando o turista na praça Sultanahamet ao passeio de catamarã no Bósforo, avista-se mulheres de burcas originárias de países muçulmanos misturadas às ocidentais de cabelos à mostra, vendedores ao ar livre, pássaros dando voltas nas torres das mesquitas a espera de uma bela foto, ares de uma pais muçulmano…
Ao continuar a caminhada, o viajante perde-se nas cores vivas das deliciosas comidas expostas que ferem o estômago, mesmo quando não há fome. Há aqueles robustos pedaços de carnes girando que decoram a frente das lanchonetes, os famosos kebabs, que fazem brilhar os olhos dos turistas como de um vira lata ao ver o frango de padaria.
Por onde passamos em Istambul, encontramos as coloridas comidas pelas vitrines, os sucos e os doces charmosos que mais parecem souvenir; e há também os famosos sorveteiros que fazem malabarismos ao colocar a bola de sorvete na casquinha. É um espetáculo!
Ah… e as grandiosas mesquitas são um show a parte! Elas não podem faltar no passeio, evidente! As mais visitadas são a famosas Mesquita Azul e Mesquita Süleymaniye – a cidade gira em torno delas. Ao longo do dia, ouve-se a penetrante recitação do alcorão em árabe convidando os muçulmanos à oração diária.
Pode-se entrar em algumas mesquitas e observar os muçulmanos em plena oração naquela famosa posição ajoelhada em direção a Meca. É extremamente prazeroso ver as decorações de pinturas e a arte muçulmana na parte interna. Há também a visita ao Palácio Topikaki, a majestosa basílica bizantina Aya Sofia, aos Hamams (banho turco), à Cisterna da Basílica e a diversos museus.
Andar pelos arredores da praça Sultanahamet, um dos principais pontos de Istambul e uma das partes mais turísticas, é bem agradável. Neste local se concentram os grandes monumentos, atrações, bares, restaurantes, hotéis, albergues. Também serve como ponto de encontro para andar pela cidade.
Verdadeira aula de história ao ar livre, Istambul reúne monumentos de grandes impérios, traços da cultura cristã com o predomínio de arte muçulmana, sítios arqueológicos e… é por aí que gente vai se perdendo.
A Turquia, além de dividir os continentes asiático e europeu, também reúne muitas culturas e contradições. As diferenças se desfazem num aglomerado, dando forma então a seu traço particular, que pode ser explorado pelo visitante nos caminhos de Istambul. A diversidade de culturas antigas e modernas constrói a sua harmonia. Não é à toa que diziam que Istambul era a Paris do mundo muçulmano.
Napoleão descreveu bem quando disse que Istambul seria a capital do mundo.