Por Jamile Diniz
A Baviera é o maior e mais rico estado da Alemanha, embora não o mais populoso. Os alemães de outros estados e os próprios bávaros consideram a região como um país à parte. É verdade que existe uma rixa entre norte e sul no país, o que é normal se tivermos em vista que isso ocorre em diversas outras nações, mas na Baviera é mais intenso. Não se trata de um movimento separatista forte como na Catalunha, mas de um sentimento muito propagado de superioridade e desprezo pelos outros estados.
O sotaque carregado, ou melhor, o dialeto por lá falado, é um dos fatores mais nítidos da divisão de águas entre a Baviera e o resto da Alemanha. Por vezes os moradores do norte não compreendem o que dizem os bávaros e por vezes talvez prefiram mesmo não entender: as posições políticas extremamente conservadoras da Baviera e as origens são completamente diferentes. Os nativos desse estado da Alemanha são mais fechados e menos receptivos com estrangeiros e até com turistas, falando de maneira geral. É, norte e sul não falam mesmo a mesma língua.
Mas, então, vale a pena conhecer a Bavária? Apesar dos preços salgados e de por vezes ter sido tratada com grosseria, minha resposta é: COM CERTEZA! Viver lá seria um desafio, mas para turistas é prato cheio! Andar pelo centro de Munique, e até de cidades um pouco menores como Augsburg, é como voltar no tempo. A arquitetura é obra de arte e encanta: é incrível como as construções são lindamente detalhadas e, muitas vezes, mais velhas que nosso próprio país.
A Baviera agrada a gregos e troianos e, para os apaixonados há a Estrada Romântica que garante paisagens de contos de fada. Muito divertido, apesar de não tão barato, é assistir aos jogos de futebol no Allianz Arena em Munique.
A cidade do renomado Bayern respira futebol e o ar um tanto antipático dos bávaros parece desaparecer por lá (talvez efeito das muitas cervejas consumidas). A estrutura do estádio é fenomenal, de fazer valer a visita até a quem não é tão fã do esporte. Lembre-se apenas de estar preparado para as piadas de 7X1.
Dica valiosíssima é conhecer Nuremberg. A segunda maior cidade do estado é conhecidíssima por suas salsichas e pães de mel, além de se destacar histórica, artística e arquitetonicamente. Resumindo: uma visita é imprescindível e inesquecível.
A marca registrada de Nuremberg é o Castelo Imperial de onde se pode observar a cidade toda de cima. Dica valiosa é visitar o local durante o pôr do sol, um espetáculo. Hoje funciona na construção o Kaiserburg Museum, que conta a história do lugar e do imperador de mesmo nome.
O primeiro registro da cidade – que é cortada ao meio pelo rio Pegnitz e repleta de casinhas alemãs típicas, um tanto mais coloridas que o normal – data de 1050 d.c. Nuremberg era cercada por muralhas e 14 portões que protegiam o local de qualquer ataque. Muitos deles foram destruídos durante a Segunda Guerra Mundial e alguns outros foram cuidadosamente reconstruídos após o fim do conflito.
A cidade, inclusive, teve um enorme papel na Alemanha nazista, já que aqui ocorriam os comícios do partido liderado por Hitler. Hoje, em Nuremberg, existe o Centro de Documentação do Partido Nazista que conta toda a história detalhadamente, além de dispor de vídeos e artefatos originais da época. Dentre outros lugares associados ao Nazismo, também é possível visitar o Campo e Tribuna Zepelin, local em que aconteciam as marchas e discursos de Hitler.
Apesar de a cidade ter sido palco de quem propagava tamanhas atrocidades, é muito bacana ver como hoje essas ideias não são perpetuadas. Muito pelo contrário, há stickers e posters com mensagens antifascistas por toda parte. Os moradores, principalmente os jovens, fazem questão de relembrar a história para que ela nunca mais se repita.
Talvez essa postura tenha se iniciado em 1945, quando também em Nuremberg aconteceu a abertura dos processos contra os 24 principais criminosos da Segunda Guerra Mundial, julgados e condenados por seus crimes contra a humanidade. Para quem se interessa por essa parte da história, é possível visitar o Memorial dos Julgamentos de Nuremberg, no exato local onde o episódio aconteceu.
A cidade, que se orgulha de ser a terra natal de Albrecht Dürer, notável pintor renascentista, abriga também o maior museu de arte e cultura da Alemanha, o Museu Nacional Germânico, cujo acervo conta com obras de arte, brinquedos, instrumentos científicos, armas, instrumentos musicais… ou seja, quase tudo.
Nuremberg também conta com igrejas majestosas do período gótico – as mais bonitas que vi no país! St. Lorenz, a maior delas, tem murais maravilhosos e há sempre alguém tocando o órgão. A Frauenkirche, não muito distante dali, é muito menor, mas também muito interessante. Construída em um local onde viviam muitos judeus é possível encontrar duas Estrelas de Davi escondidas ali – e a graça é justamente essa, achá-las.
É muito interessante perceber o contraste de Nuremberg: uma cidade tão antiga e com tanta história e que, ao mesmo tempo, pode ser tão jovem e vibrante. Com tantos atrativos diferentes fica difícil não gostar daqui.
Em vídeo, conto um pouquinho dessa experiência por Munique e Nuremberg, na Baviera:
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