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Por Daniel Carnielli
“É o progresso”, assim anunciavam as manchetes no início do século 20, quando, a todo vapor, a revolução das máquinas iniciou uma profunda mudança na vida das pessoas. Nessa mesma época, o Brasil inaugurava os primeiros bondes como transporte público em São Paulo e Rio de Janeiro, e a indústria naval galgava inovações inquestionáveis.
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A fabricação de navios movidos a vapor permitiu embarcações resistentes, valentes e velozes, capazes de carregar maior volume de carga e com grande autonomia. E falando em navio a vapor, não há como não recordarmos do famoso Titanic, construído e afundado em 1912. O Titanic ficou famoso porque sua inauguração marcava a primeira viagem do maior e mais luxuoso navio até então, porém ninguém esperava pelo infausto fim com o naufrágio nas profundas águas de Newfoundland e morte de aproximadas 1500 pessoas.
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Contudo, a tecnologia que movia o Titanic, também está presente no Schönbrunn e, apesar da comprovada fragilidade em baixas temperaturas, ainda é considerada uma obra prima da engenharia que nos permite ver o Schönbrunn em plena atividade até os dias atuais.
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A Bela Fonte (significado para “Schönbrunn”, do alemão) teve a sorte de ser construída pela DDSG para navegar pelos rios europeus e de ter como base principal Budapeste, no Rio Danúbio. DDSG é o acrônimo para Erste Donau Dampfschiffahrts Gesellschaft, que significa, em português, algo como “Primeira companhia de navio a vapor do Danúbio”.
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Construído em 1912 em Budapeste, na Hungria, o navio originalmente tinha capacidade para 900 pessoas, incluindo os aproximados 30 membros de sua tripulação, que trabalhavam nas mais variadas funções para atender as máquinas e as pessoas. Hoje, por segurança, a capacidade foi reduzida para 600 passageiros, que são carregados com tranquilidade pelo expressivo e bem conservado motor de dois pistões a vapor movido, basicamente a mesma tecnologia do seu primo nascido no mesmo ano, Titanic.
Mas se engana quem pensa que a história deste navio passou sem dificuldades em seus mais de cem anos. Na segunda guerra, o Schönbrunn participou como navio hospital ao longo do Rio Danúbio e, em 1954, teve sua primeira grande reforma que transformou o sistema de aquecimento: de queima de carvão para queima de combustível, como é até os dias atuais.
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Toda a manutenção deste navio é feita preservando seus aspectos originais. As peças, quando necessárias, são fabricadas manualmente replicando as originais e, assim, o Schönbrunn caracteriza o navio a vapor original mais antigo na Europa ainda em funcionamento.
Mais adiante, em meados de 1990 e com o fim da DDSG, o navio foi vendido para a OGEG, que até hoje administra o Schönbrunn com o propósito de realizar cruzeiros turísticos pela Áustria e países vizinhos e conservar este veterano na ativa, contando suas histórias para as gerações seguintes.
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Foi em 2009 que, em um acidente de manobra, outro navio se chocou com o Schönbrunn e quase colocou um fim a esta história. Apenas três anos antes do centenário do Schönbrunn, ele teve de ser arrastado para um estaleiro e consertado. Mas, em 2012, estava inteiro e presente para seu centésimo aniversário, tendo feito diversas viagens neste ano, inclusive para Budapeste, sua cidade natal.
Atualmente o Schönbrunn navega pelo deslumbrante Rio Danúbio a partir da cidade Austríaca de Linz. O ingresso, datas e opções de passeio estão disponíveis no site da OGEG em inglês, facilitando aos turistas vivenciar esta incrível e agradável experiência que é navegar neste traquejado senhor. Não há necessidade de autorizações especiais senão apenas a apresentação do ingresso.
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A experiência a bordo é um convite a cultura austríaca, presenteada pela voluntária* e apaixonada tripulação onde cada um, com prazer, cumpre seu importante papel seja limpando, servindo um delicioso café, preparando um legítimo almoço austríaco ou manejando a sagaz casa de máquinas.
*A OGEG não possui fins lucrativos. Mais sobre o assunto no final do texto.
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E é da casa de máquinas que escutamos o charmoso som de seu motor. Uma valsa ritmada de batidas metálicas e agradáveis que nunca incomodam seus ocupantes. Na realidade, de uma forma cativante, o Schönbrunn combina com tudo aqui. Esta máquina parece não contrastar com os castelos, bosques e pequenas cidades que costeiam o Rio Danúbio. Ele está em casa e viajar nele é como aceitar um convite para conhecer ao vivo uma experiência histórica.
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Aliás, conhecer a Áustria por este ângulo evidencia que o País dos Alpes não é somente de Alpes. A parte austríaca do Rio Danúbio não é somente navegável, como é também “banhável”. Em sua margem há uma ciclovia e diversos trechos onde famílias estacionam seus veículos para entrar no rio e brindar os belos dias na natureza. Aliás, a Áustria é um dos países mais verdes da Europa, visto que, atualmente, conta com cerca de 47% de seu território protegido e preservado.
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Talvez se o azarão Ramon Artagaveytia (Não sabe quem é? Pesquisa que essa história vale a pena!) houvesse apostado no Schönbrunn como o navio para se recuperar do trauma, seu final teria sido diferente.
Informações práticas
- O ingresso pode ser comprado online no site da OGEG.
- As saídas, quase sempre são da cidade austríaca de Linz, em um píer próximo ao centro histórico da cidade.
- A duração das viagens varia de acordo com a programação disponível, acontece somente no verão europeu e não tem datas fixas. Portanto consulte o site antes de programar a sua viagem.
Sobre a OGEG
A OGEG, acrônimo para Österreichische Gesellschaft für Eisenbahngeschichte, que significa algo como Sociedade Austríaca para história ferroviária, foi fundada em 1971, na própria Linz, para preservar as locomotivas do pais e acabou adotando junto o Schönbrunn.
A entidade não tem fins lucrativos e toda a tripulação do Schönbrunn é composta por voluntários. Há até uma brasileira no grupo! Portanto, não deixe de presenteá-los com uma gorjeta hein! Afinal, não é só de máquinas que se faz o progresso, não é mesmo?