Por Renata Ferri*
A chegada à capital do estado de Jalisco, no México, é um pouco conturbada. Nos ônibus interestaduais que têm como destino Guadalajara, vendedores entram a cada parada oferecendo fritas, manga com pepino, amendoins e outros tipos de alimentos por alguns poucos pesos. E não ficam na mão, pois os mexicanos, que gostam de estar sempre mastigando alguma guloseima, não resistem em comprar quase tudo que se oferece.
Os mapas não dizem muito sobre a parada de ônibus na qual você deve descer para chegar onde quer, e as pessoas parecem dar informações imprecisas e confusas. Para não correr o risco de parar do outro lado da cidade e depois ter que gastar um dinheirão de táxi para chegar onde você queria primeiramente, a solução é sair perguntando várias vezes, a várias pessoas, até que alguém lhe diga alguma coisa útil.
É preciso aprender uma grande lição mexicana: nunca confie muito nas informações que você recebe. As pessoas certamente têm boas intenções e querem ajudar, mas muitas vezes não fazem a mínima ideia do que estão falando.
Tonalá
Um dos passeios mais tradicionais da cidade, também carinhosamente chamada de “Florença Mexicana”, é o mercado de Tonalá, localizado na região metropolitana de Guadalajara, a mais ou menos uma hora de ônibus do centro.
A feira, que também é conhecida pelo nome Nahuatl de Tianguis, que significa, literalmente, mercado, abre às quintas e domingos das 8h às 15h e conta com centenas de barracas e tendas improvisadas, que se amontoam nas calçadas apertadas pelas quais a massa vai passando e despejando até as últimas moedas da carteira.
Lá é possível experimentar um pouco do afamado talento mexicano para o artesanato: são 3km de vasos desenhados à mão, esculturas da piedra del sol – também conhecida como calendário azteca –, roupas e tapeçaria de cores vibrantes, que refletem a vivacidade da alma dos mexicanos.
Na grande feira os preços são baixos – uma piedra del sol de tamanho médio, por exemplo, custa R$ 5. Os brasileiros, compradores contumazes, devem se preparar para carregar sacolas e mochilas grandes para todos os presentes que ficarão tentados em adquirir.
Também é um ótimo lugar para experimentar a culinária típica e provar a bebida mais antiga daquela terra: o pulque. É um liquido meio viscoso, com gosto de água de coco estragada, feito da fermentação do agave – como se fosse o antepassado primata da tequila.
Os astecas tinham o costume de consumir essa bebida há séculos, bem antes da chegada dos espanhóis. Não é muito gostoso, mas vale a experiência. Em algumas barracas eles perguntam se você quer que misture um pouco de tequila e na maioria delas você pode levar para casa o copo – uma linda jarra de cerâmica decorada. Tudo por apenas R$ 5.
Tequila
Depois da visita ao mercado mais famoso da região, estávamos preparados para conhecer a mitológica cidade de Tequila. Normalmente, os albergues e hotéis de Guadalajara estão preparados para atender a demanda de clientes que desejam conhecer o vilarejo onde nasceu a famosa bebida, mas é preciso ficar atento aos preços e pacotes para não entrar em roubadas desnecessárias.
O hostel em que nos hospedamos oferecia um pacote razoável: pagando aproximadamente R$ 100 por pessoa, teríamos uma van que faria o translado completo desde Guadalajara, com café de manhã (café expresso e bolo), guia turístico, passeio à plantação de agave e visita a duas destilarias.
No horário combinado, a van turística nos pegou no hostel e fomos apresentados ao nosso guia, um senhor de cerca de sessenta anos de idade que se chamava Hernán, o que rendeu trocadilhos referentes ao espanhol Hernán Cortés, conquistador do México. Hernán, o guia, era muito atencioso e, no caminho até Tequila, fez questão de nos explicar as origens indígenas dos nomes dados a cada uma das localidades que cercam Guadalajara. Assim pudemos perceber que os mexicanos têm bastante orgulho de suas origens.
A tequila é uma bebida alcoólica preparada com o sumo da agave, uma planta nativa do México. Nossa primeira parada foi na fábrica artesanal Tres Mujeres, onde fomos apresentados ao senhor Rafa ‘El jimador’, ou seja, o responsável por cortar as arestas de agave e preparar a planta para a destilação.
Rafa era uma figura ímpar e nos contou que já havia participado de alguns filmes e novelas mexicanas. Ele explicou o complexo processo de preparação da bebida, que envolve cuidado no plantio, habilidade na colheita, técnica de cozimento e atenção no envase.
Na fábrica foi possível experimentar diversas variedades da tequila Tres Mujeres e o que nos impressionou, além dos sabores excelentes, foram os preços cobrados: era possível conseguir uma garrafa de boa tequila artesanal por menos de vinte reais (nos entristeceu muito lembrar do preço e do sabor das tequilas vendidas no Brasil…).
Depois que saímos da fábrica, nosso passeio seguiu por vilarejos e paisagens montanhosas. Hernán nos disse que todas aquelas cidades, localizadas em Jalisco, produziam bebida de agave e tinham direito de chamá-la de tequila, já que essa é uma denominação exclusiva, assim como o vinho espumante produzido na região de Champagne, na França.
Já no centro da pequena cidade de Tequila constatamos que ela preserva um pouco daquela atmosfera das regiões coloniais: arquitetura tradicional, ruas pavimentadas artisticamente e trânsito intenso de pessoas pelas vias apertadas.
Foi na fábrica da José Cuervo que aprendemos uma nova lição mexicana: nunca fique de estômago vazio, pois a tequila é uma bebida que pode te surpreender de muitas maneiras diferentes. Saímos esfomeados e um pouco alegres da fábrica e fomos ao primeiro restaurante que encontramos. Ali eram servidas deliciosas tortilhas, carne en su jugo – uma tenra carne imensa em um saboroso caldo –, e fantástica guacamole.
À noite
Guadalajara é um ótimo lugar para quem gosta de curtir uma noitada. São inúmeros os bares e baladas. Uma boa pedida é visitar a famosa mezcaleria, Pare de sufrir: toma mezcal! (Pare de sofrer, tome mezcal), que fica na Calle Argentina, 66. O mezcal é como a tequila, porém mais rústica, destilada apenas uma vez, às vezes curtida com um verme dentro da garrafa.
Depois, o melhor é entrar em qualquer bar para conhecer as cervejas locais ou micheladas (drinque que leva cerveja, limão, pimenta e outros temperos). Mesmo na noite essas bebidas não custam muito mais do que nos supermercados. Dá para perceber que o pessoal de Guadalajara é muito animado e nunca recusa um bom drinque em companhia dos amigos.