O Chile é um país lembrado pelos brasileiros por um detalhe: o frio. Geralmente, os conterrâneos que partem rumo ao vizinho sul-americano querem ver neve, este elemento tão escasso em nossas paragens tropicais. Mas, e se a viagem for no verão?
Prepare-se. Há muito o que fazer mesmo com as temperaturas mais elevadas. Alguns passeios, inclusive, podem ficar fechados no inverno, se as condições climáticas forem adversas. Outros, têm a sua paisagem radicalmente alterada. Cito aqui duas dicas que se enquadram nestes quesitos: Parque El Morado e Valle Nevado.
É quase irônico indicar uma visita no verão a um lugar que tem a neve até no nome. Mas garanto, você não irá se arrepender se visitar a estação de esqui Valle Nevado quando o frio não reina entre as suas montanhas.
Distante aproximadamente 70km de Santiago, é um bom passeio para um dia, e pode ser feito em um bate e volta a partir da capital. Há agências de turismo que levam os turistas morro acima, como a Turistik, por exemplo. Contudo, melhor e mais barato mesmo é alugar um carro.
Lembrando que, no Chile, brasileiros não precisam de nenhum documento especial para guiar veículos, apenas a carteira de habilitação nacional. Eu tinha a PID (Permissão Internacional para Dirigir) em mãos, só para o caso – sabe como é, é melhor prevenir, vai que a lei de Murphy estivesse espiando. Esta permissão é concedida em CFC’s aqui no Brasil, e é fácil adquiri-la.
Para chegar lá, tome a estrada Camino Santiago-Farellones (Farellones é outra estação de esqui da região, acessível pela mesma estrada, 15km antes de se chegar a Valle Nevado). Ao ir de carro até Valle Nevado, você tem ainda uma outra vantagem: parar quando quiser para registrar a paisagem espetacular em fotos.
E, acredite: você vai querer parar a cada uma das mais de 40 curvas da estrada. Conforme você vai subindo, a paisagem vai ficando cada vez mais encantadora. A altura máxima que se chega é de 2.900 metros – é bom levar um casaco, mesmo no verão, sopra um vento gelado.
Guiar por entre a Cordilheira dos Andes é uma experiência inesquecível, e muito mais segura de ser feita no verão. No inverno, a estrada fica escorregadia, e é necessário cuidados especiais para dirigir. Mas, sem a neve, basta ter atenção com as curvas fechadas, e conduzir devagar. Aliás, quem vai ter pressa por aqui? É melhor mesmo apreciar cada metro.
Sem o cobertor branco do inverno, as montanhas revelam todos os seus detalhes aos viajantes. E, se você for no começo do verão, ainda corre o risco de ver os topos congelados das montanhas mais distantes. Eu fui em dezembro, e tive essa sorte. Apesar de não ver a neve entre meus dedos, observá-la em picos afastados também trouxe uma emoção especial.
Chegando ao fim da estrada, está a estação de esqui Valle Nevado. A vista de lá de cima valeria toda a viagem, mesmo que a estrada já não tivesse sido aquele encanto. Há uma certa infraestrutura funcionando, mesmo nos meses mais quentes, como o restaurante, e ainda passeios a cavalo, trekking, teleférico, entre outros.
O preço deste último é salgado – 17 mil pesos (algo em torno de R$ 100. Veja preços e opções de passeio aqui). Mas os mochileiros não precisam se preocupar em gastar: mesmo sem passar pelos portões da estação, a paisagem é inesquecível – bem como o vento cortante, diga-se.
Outro passeio, este menos conhecido entre os turistas brasileiros que visitam o Chile, é o Cajon del Maipo. De novo, o melhor é alugar um carro para um dia de passeio. O percurso é lindo, e mesmo o trecho de estrada de chão não está em mau estado de conservação. Também é possível fazer o percurso de ônibus. O site oficial de Cajon del Maipo dá as dicas de como proceder se a opção for transporte público.
Há diversas opções de esportes radicais pela região, como rafting e tirolesa. Também é possível encontrar águas termais, por ser uma zona de vulcões – placas indicativas ensinam como proceder em caso de uma erupção. Mas eu tinha um foco bem definido: queria fazer a trilha dentro do Parque El Morado, onde fica o monumento natural El Morado. Este passeio pode estar obstruído no inverno, e ainda requerer equipamentos adequados para andar na neve. Mais simples mesmo é fazê-lo no verão.
Para chegar ali, é necessário dirigir até a cidade de San José de Maipo, e continuar até chegar a Baños Morales. São aproximadamente 100km a partir de Santiago, um percurso de aproximadamente 2h de carro. Ali, é possível deixar o carro estacionado, e pagar o ingresso de 2500 pesos (pouco mais de R$ 13) na cabana da CONAF (Corporación Nacional Forestal, órgão do governo chileno) para ingressar na trilha. O transporte público também conduz até Baños Morales.
É preciso um pouco de fôlego para suportar a subida inicial. A trilha é muito bem demarcada, então é difícil se perder se você segui-la. Não é necessário o acompanhamento de um guia, mas é bom estar atento para espinhos. Levar água e protetor solar é fundamental: estar na trilha é mergulhar na natureza mesmo, não há nenhuma infraestrutura depois de inicia-la.
Como não há árvores nem sinal de sombra em todo o percurso, reaplicar o filtro solar é muito importante. Também é legal iniciar a descida cedo, para não ter que enfrentar nenhum trecho à noite. Além disso, a CONAF pede a saída até às 18h.
Ao todo, a trilha tem aproximadamente oito quilômetros de extensão. Não é necessário percorre-la toda para apreciar as belezas do glaciar San Francisco – mesmo de longe, a sua beleza é impactante. Cenário de filme mesmo, eu quase me senti caminhando junto a Frodo na Terra Média do Senhor dos Anéis. Você vai chegar cansado ao final. Mas vai estar completamente recompensado.