Por Pedro Henrique Ferreira
Viajar não se resume somente a tirar fotos de estátuas de deuses gregos mitológicos com suas vergonhas de fora, de maravilhosas praias paradisíacas, de cenários estonteantes ou daqueles objetos que nem temos a ideia de que se trata, e que só por ver pessoas posando diante das câmeras ao seu lado, é que resolvemos fazer. Viajar não se limita a simplesmente isso: viajar vai muito além desses tais modismos.
Viajar é se redescobrir, mergulhar no outro para ir a um encontro de si mesmo, se perder no diferente para encontrar o igual, se espalhar na multiplicidade para chegar ao único – talvez uma espécie de autoconhecimento. Além das fotos, há este tesouro interno tão valioso a acrescentarmos em nossa lembrança longínqua.
Quando entro em contato com outra cultura, tento penetrar mais profundamente em sua essência, procurando entender seus hábitos, símbolos culturais e religião, para fechar uma ideia, criando um conceito geral, como por exemplo: sua alimentação, a vida diária, o vai e vem dos seus habitantes, os traços mais marcantes da sociedade, a relações entre as pessoas, suas tradições… e, para isso, devemos nos distanciar ao máximo de locais considerados turísticos, daqueles grandes centros onde todos se obrigam a tirar fotos e onde todos desejam eternamente viver, como nos contos de fadas.
Deste restrito e preservado local turístico advém o fenômeno da especulação imobiliária, na qual derivam os estratosféricos preços dos imóveis dos locais próximos às atrações turísticas, tornando-se uma espécie de relíquia que somente os ricos possuem e onde os trabalhadores são os sofridos imigrantes.
Devemos sair daquele roteiro comum, pois há muito mais do que as luzes dos letreiros de Nova York, do que a glamorosa Paris e a sua torre Eiffel, ou do que a charmosa Londres e suas marcantes cabines telefônicas. Por que não pensarmos em ir às regiões mais periféricas?
Há de se distanciar das meras aparências, penetrar mais: seja comendo em restaurantes onde os locais comem, provar comidas típicas, conversar com os habitantes e tentar se juntar a eles por uns dias, esquecendo o etnocentrismo, o preconceito contra a cultura do outro. Não digo, pois, que devemos evitar os grandes centros – visto que podemos acumular uma vasta cultura nestes locais também; além do mais, há ótimas exposições, museus, monumentos extraordinários, festas típicas… mas digo para incluirmos outros locais fora do roteiro. Seria, certamente, uma ótima ideia.
Certo é que devemos descobrir onde está a vida social do lugar – país, cidade ou região –, onde o meio social de tal cultura se encontra: seja nos restaurantes, cafés, padarias, praças, ônibus ou até mesmo em um trem – lugar que me traz fortes lembranças em mente.