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14.03.2018

Viagem de bicicleta: nossa experiência e por que você deve tentar

Fazer uma longa viagem de bicicleta nunca esteve nos meus planos. Passei os últimos três anos dando uma volta ao mundo com meu marido, o Tiago, e já viajei muito de avião, ônibus, carro, carona, barco e até carreta de caminhão… mas bicicleta? Nunca. O máximo que havia me aventurado sobre duas rodas, até então, tinha sido um longo passeio pela orla do Rio de Janeiro. Por isso, quando o Tiago me propôs uma viagem de bike – só nós dois, duas bicicletas e a estrada, por um mês – hesitei.

 

Parma, um dia antes da viagem

 

Por Fernanda Kiehl

 

As coisas mudaram quando encontramos um cicloturista austríaco em um parque de Parma, cidade onde moramos na Itália. Ele nos contou estar viajando pela Europa há três meses por uma extensa e complexa rede de ciclovias que interliga todo o continente europeu. São as chamadas Eurovelo, que formam 15 rotas seguras – e muitas vezes planas – para longos percursos de bike.

 

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Tivemos um mês entre decidir fazer a viagem, arrumar duas bicicletas, organizar todos os detalhes, treinar e finalmente colocar o pé, ou melhor, a roda, na estrada. Apesar do pouco tempo de preparo, das longas horas pedaladas, do cansaço extremo em determinados trechos e da bunda que doía MUITO, essa foi talvez uma das experiências mais fantásticas que tive desde que adotei a “vida nômade”.

 

Voltei completamente apaixonada pelo cicloturismo e aqui explico por que acho que todo mundo deveria se aventurar em uma viagem de bicicleta pelo menos uma vez na vida.

 

Por que o cicloturismo é tão fascinante?

 

O que me chamou a atenção no cicloturismo é a possibilidade de interagir intensa e profundamente com o ambiente visitado, já que não existem barreiras. Além do mais, as bicicletas naturalmente atraem curiosidade e muitas pessoas vinham puxar assunto, queriam saber de onde vínhamos, para onde estávamos indo e etc. Isso nos proporcionou incontáveis encontros e fomos inclusive convidados algumas vezes para dormir na casa de locais.

 

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Como somos adeptos de um turismo mais imersivo, conhecer pessoas e interagir com a cultura local é primordial e a vigem de bike nos proporcionou isso como nenhum outro meio de transporte.

 

Acampando na Eslovênia

 

A bicicleta também nos deu mobilidade para alcançar e explorar praticamente todos os pontos. Imagina só: você está de carro ou ônibus no meio da estrada, enxerga pela janela uma trilha que surge do nada. Você fica curioso, mas não tem como parar facilmente para descobrir aonde leva aquele caminho. Já com a bicicleta, tudo o que você precisa fazer é colocar o pé no chão, virar o guidão e entrar onde quiser. As bikes nos permitiram conhecer cantos maravilhosos, como grutas, lagos e cavernas que não estavam no nosso roteiro inicial e que acabaram sendo algumas das melhores surpresas da viagem.

 

E, se nada disso te convenceu, pensa que é uma viagem barata e ainda faz bem para a saúde. Precisa falar mais alguma coisa?

 

Por que você deveria adotar o cicloturismo

 

Todo mundo deveria tentar o cicloturismo pelo menos uma vez na vida, simplesmente porque é possível. Eu tinha um medo enorme de me lançar em uma viagem dessas, achava que não conseguiria, que não tinha capacidade física, que somente ciclistas profissionais faziam coisas assim, que seria perigoso… outras milhões de desculpas e receios infundados. Precisei experimentar para descobri que nenhum deles era real e que, sim, eu era capaz de fazer uma viagem de bicicleta, assim como tenho certeza que tantas outras pessoas também são.

 

Nossa viagem

 

Cruzando a fronteira para a EsloveniaParma, cidade onde moramos e localizada no norte da Itália, seria o ponto de partida, precisávamos apenas decidir o destino final. Optamos pela Eslovênia, pois estávamos curiosos para conhecer o país desde março, quando participamos de um evento de turismo, o ITB Berlin, e ouvimos falar sobre seus esforços para se lançar como o destino mais sustentável do mundo. Além do mais, a Eslovênia faz fronteira com a Itália, estava a menos de 1000 km de distância e, através da Eurovelo 8, poderíamos pedalar pelas margens do Rio Po em direção ao país.

 

Para definir as paradas do trajeto, repetimos o ritual da escolha do nosso roteiro de viagem de volta ao mundo: abrimos um vinho, colocamos o mapa-múndi em cima da mesa e escolhemos quais cidades do caminho queríamos visitar.

 

Como da Eslovênia não conhecíamos nada (naquele momento nem sequer sabíamos pronunciar o nome da capital Ljubljana – aliás, é “Liubliana” que se fala, o “j” em esloveno tem som de “i”), entramos em contato com o IFeelSlovenia, órgão responsável por promover o turismo nacional, que nos sugeriu um itinerário baseado no nosso meio de transporte, interesses e tempo de viagem.

 

Nosso roteiro ficou mais ou menos assim

 

Parma –> Sabbioneta, uma citadela considerada Patrimônio Mundial da UNESCO –> Mantova, a “Capital Cultural da Itália” –> Ferrara, cidade historicamente importante –> Adria, local que marca o início do Vale do Rio Po -> Chioggia, também conhecida como “The Little Venice” –> Veneza, que dispensa justificativas –> Aquileia, um dos mais importantes centros do Império Romano -> Trieste, outra cidade histórica, mas pouco explorada –> Koper, a primeira parada na Eslovênia -> Caverna de Skockjan –> Caverna de Postojna e Castelo de Predjama –> Maribor, segunda maior cidade do país e onde está plantada a parreira mais antiga do mundo –> Ptuj, vilarejo mais antigo da Eslovência -> Liubliana, a capital –> Lago de Bled, a paisagem mais famosa da Eslovênia –> Lago Bohinj, o vizinho menos turístico de Bled, mas igualmente maravilhoso –> Kobarid, início do Vale do Rio Soca e um verdadeiro paraíso –> Brda, conhecida localmente como a “Toscana da Eslovênia” –> Palmanova, de volta à Itália para conhecer um dos melhores exemplos de cidades fortificadas do Iluminismo.

 

Castelo de Predjama

 

De Palmanova pegaríamos um trem de volta para casa. Ao todo iríamos pedalar mais ou menos 1000 km, mas, como tínhamos um mês, dava para fazer o percurso tranquilamente.

 

Como se preparar para uma viagem de bike

 

O mais importante é melhorar a resistência física e se preparar psicologicamente. Infelizmente tivemos pouco tempo para treinar, mas, duas semanas antes da viagem, começamos a correr diariamente no parque, fazer abdominais, jogar bola… Enfim, foram duas horas por dia de exercícios, seguidas de meia hora de meditação para controlar a ansiedade.

 

Rio Soca na Eslovênia

 

É importante também fazer “viagens teste”. No nosso caso, como pegamos as bicicletas só em cima da hora, fizemos apenas três “bate e volta” às cidades vizinhas para entender nossos limites físicos, velocidade média que conseguiríamos pedalar e para nos familiarizarmos com o novo meio de transporte.

 

O que levar para uma viagem de bicicleta

 

Basicamente o mínimo possível. De verdade, quanto menos peso carregar, melhor.

 

Roupas

 

  • uma troca de roupa para pedalar: calça apropriada, se possível daquelas acolchoadas;
  • duas trocas de roupa para quando não estiver pedalando – ninguém merece turistar parecendo que acabou de sair da academia;
  • um tênis;
  • um chinelo;
  • capacete;
  • óculos escuros.

 

Ferramentas

 

É indispensável levar um kit de ferramentas para ajustar e consertar a bike. Aliás, é importante ter o mínimo de conhecimento sobre o assunto, porque você muito provavelmente terá que trocar um pneu furado, levantar o guidão, recolocar a corrente e etc.

 

  • uma câmara de pneu extra;
  • kit com cola e lixa para remendar um possível furo;
  • chave para abrir a roda;
  • bomba para encher o pneu;
  • chave para arrumar os freios.

 

Extras

 

  • kit de primeiros socorros (BandAid, antiinflamatório e etc);
  • bebida isotônica para dar aquela energia extra nos momentos de sufoco;
  • muitas barrinhas de cereal.

 

Dica: baixe no celular um aplicativo de GPS que funcione offline para auxiliar na rota (recomendo o Maps.me).

 

Se for acampar

 

  • barraca;
  • tapete térmico;
  • saco de dormir;
  • lanterna.

 

Dica: Se cadastre na plataforma WarmShowers (inglês para “Banho quente”), uma comunidade feita por e para ciclistas que se ajudam, oferecendo acomodação e/ou suporte para quem está na estrada. Tipo um Couchsurfing, só que de ciclistas.

 

Quantos quilômetros pedalar por dia?

 

Essa resposta depende de muitos fatores, como resistência de cada indivíduo, o percurso, os tipos de bicicletas e etc, mas, para dar uma ideia, um ciclista amador consegue pedalar entre 80 e 130km/dia.

 

Como era a nossa primeira experiência com o cicloturismo e as bikes não eram das mais leves (estávamos com bicicletas híbridas recicladas feitas pela Cigno Verde, uma cooperativa social de Parma), optamos por uma média mais baixa, de 60 a 90km/dia.

 

Palmanova, ultima parada da viagem

 

Na Eslovênia demos uma diminuída já que o país é muito montanhoso e exige mais esforço físico, então fizemos de 30 a 90 km/dia.

 

Dica: Dê uma pausa a cada três horas, para esticar, comer uma barra de ceral, descansar por uns 20 minutos e repor as energias antes de seguir viagem.

 

Vídeo

 

 

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